Comunicado de Imprensa: Esclarecimento quanto à Notícia da RTP: "OMS inclui dependência de jogos virtuais na lista das doenças mentais"

 

A For The Win esports Club, vendo-se confrontada com a notícia publicada pela RTP, sendo utilizadas nessa peça imagens e símbolos do nosso clube do ano de 2016, bem como imagens de atletas dos nossos atletas, vem expôr o seguinte:

 

1. A FTW lamenta ser associada a essa mesma notícia por imagens utilizadas;

2. A FTW em parte alguma pode ser associada à notícia da RTP, visto que, desde a sua génese tem e acompanha de forma profissional e assertiva os seus jogadores e sempre numa política de promoção de vivência saudável da atividade dos desportos eletrónicos;

3. A FTW foi e é até aos dias de hoje o único clube que teve e tem psicólogos devidamente credenciados pela Ordem dos Psicólogos a acompanhar as nossas equipas e jogadores;

4. A FTW teve e tem ainda o privilégio de cooperar e colaborar com diversas instituições de renome nacional para a prevenção na adição aos videojogos;

5. A FTW é o único clube que publicamente participa em sessões de esclarecimento, palestras, ações de formação e demais, conjuntamente com a associação Grinding Mind, atuando de forma preventiva junto de pais, filhos e entusiastas;

6. A FTW com a parceria que tem com a Grinding Mind (ÚNICA entendidade nacional que este clube reconhece como sendo a mais adequada para prevenir, informar e atuar nesta matéria) cumpre com os seus deveres sociais, sem NUNCA ter recebido qualquer apoio do Estado ou da administração indireta ou autónoma do mesmo;

7. A FTW e, certamente, a Grinding Mind têm toda a disponibilidade para qualquer esclarecimento ou auxílio na produção de uma peça televisiva verdadeiramente informativa e de utilidade pública. 

 

Nestes termos, repudia este clube a inclusão de imagens e símbolos que associam a FTW na peça mencionada referente à adição aos videojogos pela RTP, visto que, a FTW é de momento o único clube que ativamente atua de forma preventiva, informativa, real e presencial nos comportamentos de risco associados à atividade dos desportos eletrónicos. 

 

Uma vez que não somos a entidade adequada/especializada para melhor esclarecimento deixamos infra o artigo da associação Grinding Mind, redigido pela Dra. Maria João Andrade, vencedora do prémio de projecto profissional junior do ano de 2016 reconhecido pela Ordem dos Psicólogos Portugueses.

 

A associação Grinding Mind, especializada na matéria emitiu o seguinte esclarecimento:

"A Grinding Mind sentiu a necessidade de se pronunciar face à mais recente notícia da RTP relativamente à Organização Mundial de Saúde incluir no seu Manual de Classificação Internacional de Doenças (International Classification of Diseases, ICD-11) a Perturbação de Adição aos Videojogos.

 

A importância de falar sobre esta temática é preponderante e não discutível, sendo este um assunto emergente na nossa Sociedade e face ao qual esta não se encontra - ainda - adaptada nem tão pouco com as ferramentas essenciais para uma utilização equilibrada e saudável desta atividade. Sendo assim informar devidamente, prevenir de modo ativo e atuar perante os riscos é fundamental e é o lema da nossa Associação.

 

No entanto - infelizmente - devido à inadaptação existente e a um desconhecimento geral relativamente à temática, este torna-se um tema de fácil Mediatismo e onde a Superficialidade acaba por surgir em vários meios, nomeadamente nos media. Esta superficialidade e mediatismo têm as suas consequências na nossa sociedade, principalmente quando não estamos a receber de modo claro as informações, nem tão pouco de modo realista e com noção contextual. 

 

A notícia da RTP - ao nosso ver - parte de uma motivação positiva e importante, mas perde pela ausência de noção contextual e falta de pesquisa sobre a temática.

 

Esclarecimento Teórico

 

Partindo aos devidos esclarecimentos, e desde já sublinhando todas as afirmações do Dr. Pedro Hubert, as quais foram adequadas face ao que era abordado, a Perturbação de Adição aos Videojogos Online já havia sido considerada uma possível Perturbação Mental para estudo em 2013, quando esta saiu no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatistico de Transtornos Mentais - 5ª Edição). Desde então e ainda antes, muita tem sido a investigação relacionada com esta temática e com todas as outras adições relacionadas com a Internet no seu todo (sendo que a Perturbação de Adição aos Videojogos é apenas um dos sub grupos de adições à internet).

 

"A APA caracteriza a Perturbação de Adição aos Videojogos Online (Internet Gaming Disorder) no DSM 5, como um comportamento de uso persistente e recorrente dos videojogos, frequentemente com outros jogadores, levando a prejuízo clinicamente significativo ou sofrimento. Tendo isto em consideração, o DSM 5 pressupõe que se existirem a presença de 5 dos 9 sintomas de perturbação, poderemos estar na presença de uma Perturbação de Adição aos Videojogos. Esses nove fatores são:

 

- Preocupação excessiva com o videojogo,

- Uso excessivo dos videojogos mesmo conhecendo os problemas da utilização excessiva,

- Sintomas de abstinência quando o videojogo é retirado, 

- Necessidade de se manter constantemente conectado ao videojogo,

- Tentativas mal sucedidas de controlar a sua própria atividade de jogo,

- Perda de interesse em hobbies ou entretenimento, tendo apenas como excepção os videojogos, Manipulação de familiares e terapeutas com relação ao tempo de jogo,

- Utilização dos Videojogos para aliviar humores negativos, e por fim

- Desinvestimento nas relações significativas, no Emprego, bem como na sua vida Escolar e Académica devido à excessiva atividade nos videojogos.

 

Apesar de tudo esta caracterização da APA incorpora algumas limitações já abordadas por alguns autores, nomeadamente o facto de não integrar os videojogos offline (videojogos jogados apenas por um jogador, sem ser online) já que também nestas situações se podem verificar comportamentos problemáticos." Artigo "Videojogos, os Demónios da Era Moderna?" da Rubber Chicken

 

O que mudou recentemente? Face a toda a investigação realizada Mundialmente, tem-se vindo a confirmar de facto a existência de uma Perturbação de Adição aos Videojogos, tendo feito sentido à Organização Mundial de Saúde colocá-la no seu novo Manual de Classificação Internacional de Doenças (International Classification of Diseases, ICD-11)a sair em 2018 oficialmente. Este Manual não era atualizado desde 1990, tendo sido várias as alterações realizadas, entre elas a inserção desta nova perturbação, tal como já era expectável, como pudemos ver anteriormente.

 

A Percentagem de jogadores adictos é ainda uma percentagem "pequena", mas suficientemente relevante para existir a necessidade de uma atuação, estando na volta dos 13% dos jogadores Mundialmente (não sendo em Portugal diferente). Inclusive num estudo publicado pelo American Journal of Psychiatry, foi demonstrado que apenas 2 a 3% dos 19000 participantes do estudo (pertencentes a Inglaterra, América, Canadá e Alemanha) experienciaram 5 ou mais dos sintomas pressupostos no DSM-5.
O fator "tempo passado no jogo" é um fator que visto por si só é limitador, sendo importante avaliar os vários aspetos de vida do sujeito e compreender em que medida é que a atitude de vivência excessiva desta ou outra atividade realizada pelo sujeito está a prejudicar a pessoa de modo clinicamente significativo, tendo em conta os vários pressupostos existentes.

 

Relembrar que tal como em outro tipo de adições a causa não é a atividade em si mas sim o comportamento excessivo e nocivo da mesma é importante. "Não são os videojogos que viciam as pessoas mas sim as pessoas que se viciam em videojogos.". Tal como Vladimir Poznyak (Membro da Organização Mundial de Saúde) referiu "Os profissionais de saúde necessitam reconhecer que a perturbação de adição aos videojogos existe e pode ter sérias consequências. (...) Maioria das pessoas que jogam video jogos não têm perturbação, tal e qual como maioria das pessoas que bebe alcool não têm também perturbação. No entanto em determinadas circunstâncias a utilização excessiva pode levar a efeitos adversos".

 

Os benefícios dos videojogos quando jogados de modo equilibrado com as outras áreas de vida são inúmeros e têm também sido extremamente estudados. Sendo assim estes deveriam também ser elevados e lembrados à sociedade e profissionais.

 

O que nos preocupou na notícia da RTP?

 

Além deste assunto ter sido abordado de modo superficial - podendo induzir o espetador em erro - em associação ao tema da notícia foram passadas imagens do Evento Lisboa Games Week e do Clube For The Win Esports. Face à inadaptação existente na nossa Sociedade ao Mundo tecnológico e ao desconhecimento do meio dos jogadores de videojogos, é importante que exista TODO o cuidado na informação que é transmitida e como é transmitida. A For The Win Esports é um dos clubes que desde o inicio quis a sua parceria com a Associação Grinding Mind, querendo visar para os seus jogadores e sociedade em geral a promoção de uma vivência saudável desta atividade. Além disso, sempre foi um Clube altamente participativo em Portugal, providenciando uma série de Eventos para a sua comunidade, prevenindo comportamentos de isolamento e promovendo a cooperação e desportivismo. A presença em campanhas de sensibilização e a construção de projetos de esclarecimento em conjunto com a Grinding Mind são também significativos o que torna esta Clube uma referência na prevenção de comportamentos de risco. Além disto foi ainda o único Clube em Portugal a investir recursos para ter uma Psicóloga especializada a trabalhar ao nível de performance e gestão emocional com uma das suas Equipas de Desportos Eletrónicos. Não é então de mais referir que é injusto e grave mostrar imagens deste Clube associado a uma perturbação de videojogos, assim como o Lisboa Games Week, o qual promove um Evento presencial, preventivo de isolamento e o qual se preocupa de modo constante em trazer conhecimento aos seus participantes sobre a temática dos videojogos. Exemplo disto foi a existência do Auditório coordenado pelo ISCTE IUL, Direção Geral da Educação, Rubber Chicken e Indie Dome, no qual foram apresentadas inúmeras palestras estimulando saídas profissionais na área, falando sobre a industria e informando sobre os riscos e beneficios da atividade.

 

Ora que consequências - de modo sintético - pode esta notícia trazer? 

- Uma família que não esteja inserida no contexto dos videojogos e que tenha pouco conhecimento contextual sobre a temática, poderá ficar preocupada ao ver tal noticia e ao ver a imagem da For the Win Esports e da Lisboa Games Week associada a uma Perturbação, poderá ver com preocupação a presença do seu filho neste tipo de entidades ou eventos. A verdade é que a presença dos jovens nestas entidades e eventos é muitas vezes preventiva em vez de prejudicial, porém para o mais desconhecedor, tal poderá ser visto como negativo quando um canal com a reputação da RTP passa uma notícia passando este tipo de imagens.

 

- Por outro lado os video jogadores não verão com a seriedade necessária a existência desta perturbação, descredibilizando a sua existência e sentindo-se revoltados. Tal ocorre pois a informação não é passada com coerencia e com real conhecimento do contexto que estes jovens vivem todos os dias nas suas comunidades. Sendo assim em vez de prevenção de comportamentos de risco, a televisão está a passar desinformação de modo mediático.

 

Era importante para nós realizar este esclarecimento, já que a nossa missão assim o eleva. Além disso, a Grinding Mind desde já agradece a todas as Entidades Parceiras como a For the Win Esports, Exotic, Karma Clan, as quais demonstram elevada preocupação com os seus jogadores, assim como a todas as entidades que estão ou não junto a nós a promover uma melhor informação, prevenção e atuação nesta área."

Original pode ser consultado no seguinte link.

 

 

A Direcção da For The Win esports Club

Dr. Ramiro Teodósio