Crónica de Café - Starcraft 2: O que é, o que foi, o que vai ser

StarCraft II

Sep 22, 2014

Olá caros fãs e seguidores da FTW. Ultimamente têm visto bastantes posts no nosso site e no nosso Facebook a falar de Starcraft 2 (SC2 se for usada em sigla; sim também podemos ser preguiçosos de vez em quando). Eu ponho-me sempre a pensar quantos de vós saberão verdadeiramente o que está por trás desses três simples caracteres “SC2”. Pensamentos esses que reverteram neste texto que estou agora a escrever. Mas afinal de contas o que é esse SC2 de quem tanto se fala? Em que consiste? Como é que se joga?


 
O que é Starcraft 2, e porque será que tanta gente gosta do jogo?

 

Adorava dizer-vos que a resposta é simples mas não é. A resposta é complicada, concordante com o jogo em questão. Starcraft 2 é um jogo de estratégia em tempo real (Real Time Strategy, ou mais fácil RTS) em que o jogador assume uma das três raças presentes no jogo (Terran, Protoss [OP], Zerg) e defronta-se contra um oponente nos mesmos termos numa batalha em que ambos os jogadores terão que construir o seu exército com os recursos que podem obter no mapa. Durante um jogo o jogador tem que controlar o seu exército e a sua base de forma a ter controlo das suas unidades durante as batalhas e, ao mesmo tempo, controlar a sua economia e produção para continuar a ter mais e mais unidades. Parece complicado? Sim, é mesmo complicado. Falando em linguagem de MOBA’s, é como se tivessem de controlar os cinco champions da vosssa equipa, controlar os minions, as torres e ainda tinham de ser vocês a manualmente a dar spawn aos minions. Ah e ainda tinham de arranjar o dinheiro para os mesmos… bolas que este jogo é obra.

Mas acho que isso faz parte da magia do mesmo e a razão pela qual gostamos tanto dele… toda a complexidade que o jogo envolve, a habilidade mecânica (sim, Starcraft 2 é aquele jogo em que normalmente se vê os jogadores a carregar em teclas a uma velocidade forma do normal, quase sobrehumana), a vertente táctica, a inteligência envolvida, e até mesmo o facto de ser tão imperdoável (um simples erro e GG). E além de todos os elementos in-game que o tornam tão especial, SC2 tem todo um historial competitivo que o torna um dos pioneiros dos eSports como os temos agora.
Starcraft já foi O eSport… e sim, aquele “O” maiúsculo é de propósito. Olhando acima de tudo para a Ásia, e obviamente focando-nos na Coreia do Sul, Starcraft era o Desporto Nacional daquele país. Organizações como a KeSPA e a OGN quando falando da Coreia ajudaram o Starcraft a ser na Coreia o que o Futebol é para nós em Portugal. Jogadores tinham salários super chorudos e na rua eram tratados como super-estrelas, e não, não exagero quando vos digo que os grandes jogadores de Starcraft eram literalmente assediados na rua por enxames de raparigas bonitas que lhes davam prendas e queriam ser as suas namoradas… Parece um sonho para muitos, mas para eles era a pura da realidade. Até mesmo no mercado Ocidental, Starcraft tinha bastante impacto, fosse em eventos da MLG, da IEM ou afins, Starcraft sempre teve a sua presença e sempre foi um dos elementos mais respeitados mundialmente no que toca a eSports.

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Mas os tempos mudam, e o Starcraft foi um dos jogos que mais foi afectado com a explosão dos MOBAS, que num espaço de tempo curtíssimo tiveram uma enorme explosão no que toca à scene profissional. Sim, Dota já existe há imenso tempo como Mod do Warcraft, sim eu sei que já era muito grande na China e na Rússia há imenso tempo, etc etc etc… onde é que eu ia? Ah sim! Starcraft foi imensamente afectado por estes jogos que em diversas maneiras traziam uma abordagem bastante diferente da que o Starcraft tinha. Antes de mais, eram grátis! Qualquer pessoa podia simplesmente fazer download do jogo da Internet e podia jogar com os amigos! O SC2 requer que o jogador compre o jogo original, Starcraft 2 Wings of Liberty, e se quiser se manter a par da scene, tem também de comprar a expansão, Starcraft 2 Heart of the Swarm… ao todo isto dá 80€ de investimento, a competir com jogos que são, na sua essência, Free to Play e o único dinheiro que se gasta neles é meramente opcional. Este factor, aliado ao facto de se poder jogar com os amigos com a facilidade de um clique de rato, fez com que muita gente se afastasse do Starcraft 2. E depois temos o segundo factor: estes jogos, estes MOBA’s são jogos 100% orientados para a competição e para o jogo online! São jogos e empresas que fazem o jogo com o objectivo de ele ser jogado em ambiente competitivo, seja profissional ou não! E são empresas que, ao ver a explosão a nível competitivo que o jogo teve, tiveram a vontade de o tornar em algo ainda maior, e hoje em dia todos nós sabemos o que o League of Legends e o Dota 2 são. São jogos que movem milhões de pessoas, são jogos cujas transmissões envolvem milhões de pessoas! E no mundo do entertenimento, quer online, quer televisivo, milhões de pessoas é igual a milhões de euros.
O Starcraft caiu um pouco para trás nesta corrida, sendo ultrapassado pelo LoL, pelo Dota, até mesmo pelo CS:GO e possivelmente Heartstone em alguns casos… Isto fez muita gente criar toda uma especulação à volta da continuidade do Starcraft como eSport… Estará mesmo o Starcraft a morrer?

Eu acho que todos temos de saber o nosso lugar no mundo. Os fãs de Andebol sabem que o Andebol em Portugal nunca vai ter o destaque que tem na Suécia. O Rony Lopes (saiu-me assim um bocado ao calhas, acertei ao menos no nome do rapaz?) sabe que nunca vai ter o destaque que o Cristiano Ronaldo tem. O Bloco de Esquerda sabe que nunca vai chegar aos números do PS (hey, nao podem ser todas metáforas de Futebol). Agora eu pergunto, será que, mesmo sabendo isto, o Andebol, o Rony Lopes ou o BE vão deixar de existir ou de fazer aquilo que fazem? A resposta é não! Simplesmente seguem os seus projectos ou os seus objectivos sabendo da realidade. A realidade é que o Starcraft muito dificilmente irá ultrapassar o League ou o Dota no futuro, desculpem-me fãs de SC2 mas é a verdade. Mas é por isso que vou deixar de ver ou de jogar SC2? Claro que não! É por isso que vão deixar de haver torneios? Claro que não! Prova disso é a Dreamhack, a ESL, através da IEM, a WCS e por aí fora. Não falta SC2, agora que não temos os mesmos números que tínhamos claro que não, mas há que saber o nosso lugar no mundo e saber viver com ele. Não vale a pena sermos uns frustrados para a eternidade só porque o League tem mais viewers do que o Starcraft. Saibam o vosso lugar no mundo e saibam viver com ele que serão felizes.
 

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E claro que eu não podia fazer uma crónica sobre Starcraft sem falar sobre o Starcraft em Portugal e sobre a minha querida squad dentro da FOR THE WIN ESPORTS CLUB. Ora, se dizem que o SC2 está a morrer globalmente, em Portugal então já podiam dizer que estava morto e enterrado (fazendo uma análise comparativa apenas, não vale a pena acender já as tochas). É verdade, a scene competitiva portuguesa está quase parada, desde que a XL fechou as portas que o pessoal se queixa de que não há lans e que o jogo está morto e mais nao sei o quê. Bem… é verdade. Há poucos eventos de Lan em Portugal, principalmente eventos que tenham Starcraft 2, mas a verdade é que ainda os há! Este ano pelo menos eu conto dois. Conto a Ourém Cyber Party que devido à nossa vida académica, nós FTW, em SC2 não pudemos comparecer, e vamos ter agora o Meet uP em Gaia em Outubro. Mas, e agora sim vem aí a grande critica à comunidade de SC2 Portuguesa: para uma comunidade que tanto reclama que não tem eventos Lan e que se farta de pedir para haver mais e mais eventos, no primeiro evento Lan que houve, estiveram cinco pessoas apenas! Cinco!!!!! Isto de uma comunidade que se farta de pedir por tudo e mais alguma, é gravíssimo! Claro que a aparecer cinco pessoas em Lans ninguém no seu perfeito juízo vai apostar em meter eventos de SC2 nas Lans, dá mais despesa do que lucro, e eu, no caso da OCP, contra mim falo porque eu próprio nao pude ir mas disse-o desde o princípio. A ver vamos como vai ser agora com o Meet uP, onde eu acho que iremos ter um número mais considerável de jogadores. Mas shots fired à parte, acho que os jogadores e as organizações ao invés de simplesmente esperarem que as coisas apareçam feitas, devem procurar soluções para elas mesmas, isto claro dependendo dos objectivos que elas tenham, e por muito trabalho que isso acabe por dar. Ainda recentemente em conversa com um amigo meu ele me disse “Tu recusas-te mesmo a deixar isto morrer aqui”. A verdade é que, de facto, sim recuso-me, mas acima de tudo porque vejo que há elementos com os quais vale a pena trabalhar e pelos quais vale a pena trabalhar. E se em Portugal não encontram as soluções que têm, se lutarem por as encontrar fora de portas, vão achá-las!

Foi aquilo que me aconteceu… Estou na FTW desde Julho de 2013… Na altura entrei abandonando o projecto que eu estava a começar com um grande amigo porque sentimos que aqui iríamos ter outros argumentos para crescer e fazer algo maior. Entrei nesta casa e encontrei uma Squad de SC2 100% funcional, com jogadores a competir na ESL, a competir em torneios online, pessoas com objectivos de serem grandes nomes europeus… Encontrei aqui um grupo que todo ele emitia a essência de querer ser muito mais do que eram… Um ano passou e muita coisa mudou… Desse grupo original só três jogadores se mantêm. Muito drama, muitas confusões, muita luta… Nunca pensei que me fosse apegar de tal maneira a este projecto e às pessoas nele envolvidas ao ponto de derramar lágrimas quando as coisas ficaram mais escuras… Mas depois da noite, vem sempre o dia. Foi difícil, vi as coisas perto do fim, mas sim, eu recuso-me a deixar isto morrer. Lutei, fui fora de portas, arranjei outras pessoas com vontade de lutar comigo e de me ajudarem. Querem saber o resultado? Este verão estivemos na Dreamhack Valência, convivemos com os profissionais, jogámos contra os profissionais, aprendemos com eles. Dessa viagem surgiu o convite para jogarmos na Proleague Espanhola. Somos a primeira equipa portuguesa a jogar nessa liga, que conta com bastantes nomes conhecidos da scene europeia de SC2! Temos jogadores da Alemanha, da Suécia, da Áustria e claro de Portugal, e cada vez mais sinto que estamos mais próximos uns dos outros e todas estas lutas e aventuras nos fazem… algo mais do que aquilo que eramos.
Posto tudo isto, e é melhor acabar que o texto já vai longo, é isto que o Starcraft é para mim. Chega de “Ded Gaim”, chega de manias das grandezas, chega de nos sentirmos menos que os outros só porque temos menos brinquedos que eles. Este texto teve o objectivo de vos dar a entender um pouco do que é este jogo e do quanto ele marca as pessoas que a ele ficam ligadas. Espero que estes meus devaneios vos inspirem a experimentar pelo menos o jogo e se não o fizerem, que ao menos vos transmita a ideia de lutar por aquilo que vocês acreditam, mesmo que todos os outros vos digam que não vale a pena. Acreditem, podem-se surpreender.
 

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Diogo “Buondi” Freitas, FOR THE WIN ESPORTS CLUB Starcraft 2 Squad Manager

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Categorias: StarCraft II

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